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Numa mesa de bar tudo acontece, no chão dele, então... Era lá que eu estava jogada, bêbada, fedendo a cigarro e as mágoas que nunca consegui jogar fora - por apego ou costume elas passaram a fazer parte do meu ego ou do meu escudo. Dessa vez, não havia ninguém pra me jogar debaixo do chuveiro e arrancar a minha roupa com cuidado enquanto eu me jogava por cima dela com todo o amor que me fazia tombar. Também não queria. Por essa noite, não.
Saí de casa pra ir a um show fantástico de um daqueles cantores que tem uma canção pra cada estado de espírito - não importa a sua condição humana - e que você já sai pra ouvir a música que te catuca sem métrica. Você sabe que ela vai tocar, sabe que vai mexer com algo que você tem o maior cuidado e sabe que vai te fazer chorar. Você sabe que por mais longe que esteja aquele veneno é dele que você vai experimentar o sabor naquele momento enquanto as lágrimas descem desenfreadas. Pois é. Saí prevenida e não senti aquela pontada enquanto ele cantava "O que me interessa" nem enquanto declamava "Paciência". Estava tudo perfeito, mas, meu cigarro estava no fim quando o Lenine embalou a multidão com seu "Leão do Norte" e o meu copo estava vazio - tão seco quanto o meu coração estaria horas depois.
Saindo daquela maresia fodástica, caminhei algum tempo pela praia e decidi ver um filme. A minha semana foi recheada por filmes de ALTÍSSIMO comprometimento do tipo "Bruna Surfistinha", "Sexo Sem Compromisso" e finalizado com "Esposa de Mentirinha". Nada mais perfeito pra junção das histórias anteriores. Não, não estava sozinha... Ela apareceu como um pseudoantídoto pr'aquele breu que imperava entre as minhas tripas desgastadas e aleatoriamente vomitadas dias antes. Eu sabia que era ilusão. Sabia que era só mais uma das fases do jogo do Tom & Jerry, mas, eu não tinha mais paciência - não sou o TOM.
Por mais cômico que seja a trama, acabo analisando seriamente e buscando nos detalhes algo que o faça valer a pena - até porque não gosto de filmes de comédia, mas, por ela eu relevei - e não soar tão chato. Na verdade, travei no final do filme. Assim como a "Devlin" ou "Katherine" eu não tenho mais tempo a perder, os achismos não cabem mais no meu jogo de viver. Tá. Tá, eu sei que ela não vai estar lá na hora que eu partir pra um outro porto, sei que ela não sonha em me esperar numa noite pra um jantar enquanto saio de uma reunião de negócios chata e de sucesso. Ela não quer nem cuidar dos meus cachorros - essa era uma outra que agora vai cuidar do Labrador de outra - nem aguentar a minha desafinação enquanto toco o meu violão azul. Não. Não vou me iludir e achar que ela queria ser a minha companheira, acho mesmo que ela me quis UM DIA - veja bem que é só UM DIA -, mas, viu que não era a dela e pulou fora pra que eu saísse correndo atrás.
Não... Eu não tinha nada pra falar ao final do filme. Apenas travei naqueles personagens. Inclusive no "Danny". Não tinha permissão pra isso? Tenho que responder ao seu imediatismo pontual?
Não. Eu não entrei pro cânone, não estou em processo de beatificação ou coisas do tipo nem quero. Isso é pra santo e já me dá muito trabalho ser anjo safado como sou.
Definitivamente: não entendi porque ela foi embora sem me dizer um "até mais" ou um "adeus". Não entendi porque que ela não olhou pra trás nem se preocupou como eu iria sair dali depois que ela se fosse, mas, ela foi e mais uma vez pensou NELA e no ego bem nutrido como de costume.
Nunca tinha antenado pra esse lado que ela possuia e encobria com sorrisos perfeitos, gargalhadas rasgadas que escondiam dores presas, medos claros e fraquezas que poderiam desbancar todo aquele monumento espetacularmente HUMANO. Você sente raiva? É... Eu também.
Enquanto ela ia, eu observava aqueles erros que cometera ao dar-lhe a certeza do que eu sinto e que assim como as minhas lágrimas e vômitos se esvaiam no chão daquele bar imundicado.
Eram 3h34 de mais uma madrugada vazia. Duas mulheres me olhavam e dois amigos - que fiz no ônibus e acompanhavam um colega cantor que eu nem lembrava o nome - achando que era pra eles se enalteciam. Pobres! No meu bolso estava o número daquelas duas vagabas que não me cairiam bem. Caí no costume de mulher de capa e conteúdo, não conseguiria me deitar e relaxar o meu gozo para aquelas "qualquer coisa".
Como citava, ela se foi e eu fiquei ali secando tudo o que chamavam de sentimento. Meu status no msn seria "EMPTY" não "disponível".
Não estava a disposição de ninguém e aquele ônibus caiu como uma garrafa na cabeça.
Eu queria o seu sentimento, não o seu coração. Queria só viver isto dia após dia, nada de tomar pra mim de dizer que você é minha ou que a sua vida é minha. Não concordo que viver um sentimento signifique apropriar-se do que o outro é. Queria me infiltrar em você e deixar que você fluisse em mim, mas, você prefere alguma pessoa idiota suficiente pra não querer um sentimento. Ok! Vamos ver até onde vai a sua encenação. Afinal, você não é de mentira. É egoísta, covarde, porém, de verdades e muitas verdades.
Não... Não me interessa até onde você vai ou onde vai explodir a próxima fúria que te sucumbir. Estou vomitando o ódio que senti por te perder e por não ter coragem suficiente pra te manipular - ao invés de te dar o poder de escolha. Saiba que cada lágrima que rolar, a partir de hoje , não será de lamentação por você ter ido embora, mas, por eu não ter sido suficiente para alimentar o seu ego, te confortar, assumir e te dar a vida que você tanto quer, mas, fica aí parada se contentando com migalhas do cotidiano.
O bar? O bar já fechou faz tempo, os meus 'amigos' foram embora e eu continuo aqui nesse chão fétido onde os seus sentimentos mediocremente unidos me jogaram. Não. Não quero a sua mão. A sua pena serve para o dia em que enxergar que alguém quis viver de verdades ao teu lado, mas, você preferiu encenar a vida perfeita com um estereótipo pardo de macaco sapiens e vender o direito de ser feliz pelo gole surreal de um convívio vazio e prazeroso.
Viva a sociedade que limita os valores aos corpos, ao encaixe de sexos e não aos sentimentos!
Viva a realidade de fingir.
Atores do cotidiano, parabéns por fingirem até para si.
Ela não era tão aguerrida e corajosa como pensei ter conhecido. Era formidável mesmo assim. Não consigo mudar a minha concepção. Ainda é a mulher perfeita - tirando determinados hábitos pós-refeição - que sonhei pra casar e criar os meus cachorros. Eu? Pra ela isso não importa mais. Certamente, faz tempo que não importa mais nada.
Agora, pretendo acertar o número do táxi e não ligar pra ela me buscar aqui. Ela está na cama comemorando mais um dia ao lado do seu príncipe enquanto estou aqui nesta merda. Culpa dela? Não. Culpa desse coração otário e levemente ébrio mesmo.
Acordei querendo dormir o dia todo, não querendo deixar a luz do sol passar entre as cortinas e me sorrir aquele belo dia claro e abafado - dificuldade dos bichos da noite.
Depois de uns 10 minutos transitando entre tomar um suco de laranja ou um botijão d'água, preferi levantar e me jogar debaixo do chuveiro antártico. O gelo que batia na minha nuca e descia pelas costas dava uma sensação de relaxamento que me fazia quase sonhar debaixo daquela torrencial cachoeira industrializada. Não. Não liguei pra essas coisas de ecologia não sei o que lá, de preservação não sei das quantas... Ah! Por que o ser humano só deixa pra pensar nessas coisas em cima da hora, já com o pé na cova? Eu precisava ao menos me sentir mais leve para andar até a esquina e comprar aquela revista de fotografia, a carteira de cigarros e um novo vaso de violetas pra pôr na janela.
Não era humana a minha condição não - uma lagartixa grávida chegaria mais rápido ao elevador, por isso, preferi descer pelas escadas que estavam mais próximas a porta de serviço. Não levei menos de 20 minutos pra descer 2 lances e parti para a banquinha velha que ficava no final da rua que mais parecia a avenida caxangá de tão longa - na realidade só precisava andar uns 100 metros, mas... - CHEGUEI.
Peguei o meu jornal, a revista, as 2 carteiras de cigarro, 3 cervejas e voltei em peregrinação até a floricultura para pegar as minhas violetas.
Tudo feito, voltei para o meu casulo. Joguei tudo por cima da mesa - menos as violetas que eram pra janela - e fui para o quarto. Me atirei na cama, sonhei por segundos com aquele sorriso que nem sei a que rosto pertencia e sorri com a minha ainda embriaguez. A boca era simples, os dentes não eram perfeitos, mas, tinha algo que me prendera ali. Talvez, o jeito de sorrir ou o querer me sorrir mesmo parecendo ilegal.
Levantei e fui até a sala pegar os meus companheiros de devaneios para viajar um pouco daquele apertamento com camisas jogadas pelo sofá, calças e peças íntimas na estante e por cima da tv, meias e sapatos pelo chão e uma meia no lustre, cinzeiros espalhados deliberamente - ou de acordo com o último lugar onde apaguei. As fotografias me levavam pra um outro mundo que eu jurava não existir até aquela primeira dose de aguardente que virei sem gelo ou açúcar - nem lembro em qual bar.
Aqui é sempre quente no fim da tarde, mas, logo vem a noite e esfria tudo para que eu possa sair e mais uma vez beber a beleza daquelas jovens idéias de felicidades juvenis. Gosto de mergulhar no mundo alheio porque no meu eu já não consigo nem rastejar. Cansei de tantas regras e tantos limites sem razão.
Eu quero mesmo é arrastar o meu piano nas costas e tocar no meio da avenida, correr sem roupas por várias quadras, pedalar na praia com o meu labrador, surfar a noite enquanto todos param pra olhar a lua - não, não, eu quero tocar a lua no pico de uma onda gigantesca e morna -, quero subir num arranha-céu e jogar as cinzas do meu cigarro para ver em qual careca ela vai pairar. Eu quero beber até que o meu fígado peça demissão e os meus rins entrem em greve, quero ouvir som alto e bater nas portas dos vizinhos enquanto eles dormem depois de mais um rotineiro dia de trabalho. Quero sair da rotina, porra! Pra que viver nessa convenção de que TENHO que trabalhar, estudar, arrumar alguém para lavar as minhas roupas, cozinhar bem e cuidar de mim - que não seja a minha mãe ou a empregada - e que eu possa chamar sempre usando um pronome possessivo e algum substantivo ou adjetivo idiota do tipo "honey", "baby", "amor"? Não! Basta disto! Quero alguém que me beije, que tire a minha roupa, jogue pelo sofá, pelo chão e se jogue comigo em qualquer lugar. Quero um sexo por dia ou vários por dia. Quero fazer esse tal de amor com quem merece e não com quem parece precisar. Quero cuspir na cara dos marginais fardados e apertar a mão dos justos que não tiveram um "peixe" para fardá-los - ainda bem porque não tiveram a chance de serem corrompidos pelo poder que a farda parece dar. Preciso de menos hipocrisia e mais ação.
Essa noite quero Stevie Wonder na vitrola daquele barzinho de cadeiras tortas de madeira corroída por cupins tão bêbados quanto os meus sonhos de adolescente. Quero ouvir mais que lamúrias e medos, quero aquele sorriso além dos meus delírios e desejos. Quero aquela boca me tirando o fôlego e o líbido. Quero ser mais que um pacote de emoções e idéias fracassadas.
Espera. Só mais essa vez. Só mais esse gole. Só mais uma dose louca de você. Deixa ser meu último trago enquanto te espero pra aquecer esse coração gelado que se esconde atrás de pulmões perfeitamente definhados.
Não. Não é você quem eu quero pra mais uma noite de sexo ou dias de sexo. Você é aquela pessoa que vive entre a minha ebriedade e o meu desejo de ainda poder existir. Pelo seu coração eu trocaria o meu fígado, os rins e os pulmões para algo menos carregado. Talvez, você até goste que eu seja metade de você e divida o peso das angústias da vida. Certamente, não é tão má idéia. Mas, se você quiser, ainda posso te devolver os cigarros e a embriaguez na calçada suja de vinhos e ervas. Te levo pra casa e te dou aquele banho que você tem o costume de dar. Te ajudo com a cozinha e terei o maior prazer em te devolver o gosto pelo arroz enquanto admiro aquelas violetas caprichosas como você. Mas, vou continuar correndo sem roupas e pedalando com o meu labrador com cara de idiota. Vou embolar na grama com ele enquanto a mangueira despeja litros de alegria em nós.
Espera naquela mesma mesa onde despejávamos as alegrias que o mundo nos privava enquanto éramos da lei. Somos todos fora da lei disfarçados de politicamente corretos mesmo. Vestimos ternos no calor porque a corporação nos impõe, dormimos só 8 horas porque alguém diz que é defeito dormir além disto, tomamos banho 3 vezes ao dia porque a nossa "cultura" sugere como normal. O que é normal? O que é loucura? Até onde estou em mim e quando comecei a ser depósito de ti? Até onde me estendo e onde me contraio para ser aquilo que digo ser? Até onde você é o que você pensa? Até onde VOCÊ pensa que vai?
Não são os seus desejos que traçam o teu perfil, são os teus medos. Não é a tua força que te faz vencer, é a tua flexibilidade para vender aquilo que te é mais precioso - o amor próprio. Não. Não quero nada disso. Quero nem saber que horas são ou o que você pretende fazer amanhã. Quero é pular no colo de um velhinho e sorrir com aquele sem-dentes de forma pura e sábia. Quero beijar a testa de uma criança que guarda o sonho de ser grande sem imaginar que quanto maior ela fica, menor ELA fica. O ser humano chega ao ponto de muitas vezes sumir em si, aliás, é por isso que não tenho GPS, celular ou rastreadores semelhantes. Quando me perco aqui dentro, esbarro numa pilastra, caio numa poça de lama e levanto pra chegar num orelhão e discar um número qualquer que me faça companhia por alguns instantes.
Ah! Nem sei se você quer mesmo alguém que te acompanhe ou se prefere só ser um rastro. Você é um enigma que nem sei se quero desvendar, talvez, seja até melhor te ter como um mapa sem "X'. Quer saber? Vou tomar minha última breja, tragar o último dos moicanos e sair pro boteco mais 60's que eu encontrar. A sua alma se perdeu ali, a minha loucura vai esbarrar nela por lá.