Você sente raiva? Eu também... iKi! iKi!




Numa mesa de bar tudo acontece, no chão dele, então... Era lá que eu estava jogada, bêbada, fedendo a cigarro e as mágoas que nunca consegui jogar fora - por apego ou costume elas passaram a fazer parte do meu ego ou do meu escudo. Dessa vez, não havia ninguém pra me jogar debaixo do chuveiro e arrancar a minha roupa com cuidado enquanto eu me jogava por cima dela com todo o amor que me fazia tombar. Também não queria. Por essa noite, não.
Saí de casa pra ir a um show fantástico de um daqueles cantores que tem uma canção pra cada estado de espírito - não importa a sua condição humana - e que você já sai pra ouvir a música que te catuca sem métrica. Você sabe que ela vai tocar, sabe que vai mexer com algo que você tem o maior cuidado e sabe que vai te fazer chorar. Você sabe que por mais longe que esteja aquele veneno é dele que você vai experimentar o sabor naquele momento enquanto as lágrimas descem desenfreadas. Pois é. Saí prevenida e não senti aquela pontada enquanto ele cantava "O que me interessa" nem enquanto declamava "Paciência". Estava tudo perfeito, mas, meu cigarro estava no fim quando o Lenine embalou a multidão com seu "Leão do Norte" e o meu copo estava vazio - tão seco quanto o meu coração estaria horas depois.
Saindo daquela maresia fodástica, caminhei algum tempo pela praia e decidi ver um filme. A minha semana foi recheada por filmes de ALTÍSSIMO comprometimento do tipo "Bruna Surfistinha", "Sexo Sem Compromisso" e finalizado com "Esposa de Mentirinha". Nada mais perfeito pra junção das histórias anteriores. Não, não estava sozinha... Ela apareceu como um pseudoantídoto pr'aquele breu que imperava entre as minhas tripas desgastadas e aleatoriamente vomitadas dias antes. Eu sabia que era ilusão. Sabia que era só mais uma das fases do jogo do Tom & Jerry, mas, eu não tinha mais paciência - não sou o TOM.
Por mais cômico que seja a trama, acabo analisando seriamente e buscando nos detalhes algo que o faça valer a pena - até porque não gosto de filmes de comédia, mas, por ela eu relevei - e não soar tão chato. Na verdade, travei no final do filme. Assim como a "Devlin" ou "Katherine" eu não tenho mais tempo a perder, os achismos não cabem mais no meu jogo de viver. Tá. Tá, eu sei que ela não vai estar lá na hora que eu partir pra um outro porto, sei que ela não sonha em me esperar numa noite pra um jantar enquanto saio de uma reunião de negócios chata e de sucesso. Ela não quer nem cuidar dos meus cachorros - essa era uma outra que agora vai cuidar do Labrador de outra - nem aguentar a minha desafinação enquanto toco o meu violão azul. Não. Não vou me iludir e achar que ela queria ser a minha companheira, acho mesmo que ela me quis UM DIA - veja bem que é só UM DIA -, mas, viu que não era a dela e pulou fora pra que eu saísse correndo atrás.
Não... Eu não tinha nada pra falar ao final do filme. Apenas travei naqueles personagens. Inclusive no "Danny". Não tinha permissão pra isso? Tenho que responder ao seu imediatismo pontual?
Não. Eu não entrei pro cânone, não estou em processo de beatificação ou coisas do tipo nem quero. Isso é pra santo e já me dá muito trabalho ser anjo safado como sou.
Definitivamente: não entendi porque ela foi embora sem me dizer um "até mais" ou um "adeus". Não entendi porque que ela não olhou pra trás nem se preocupou como eu iria sair dali depois que ela se fosse, mas, ela foi e mais uma vez pensou NELA e no ego bem nutrido como de costume.
Nunca tinha antenado pra esse lado que ela possuia e encobria com sorrisos perfeitos, gargalhadas rasgadas que escondiam dores presas, medos claros e fraquezas que poderiam desbancar todo aquele monumento espetacularmente HUMANO. Você sente raiva? É... Eu também.
Enquanto ela ia, eu observava aqueles erros que cometera ao dar-lhe a certeza do que eu sinto e que assim como as minhas lágrimas e vômitos se esvaiam no chão daquele bar imundicado.
Eram 3h34 de mais uma madrugada vazia. Duas mulheres me olhavam e dois amigos - que fiz no ônibus e acompanhavam um colega cantor que eu nem lembrava o nome - achando que era pra eles se enalteciam. Pobres! No meu bolso estava o número daquelas duas vagabas que não me cairiam bem. Caí no costume de mulher de capa e conteúdo, não conseguiria me deitar e relaxar o meu gozo para aquelas "qualquer coisa".
Como citava, ela se foi e eu fiquei ali secando tudo o que chamavam de sentimento. Meu status no msn seria "EMPTY" não "disponível". Não estava a disposição de ninguém e aquele ônibus caiu como uma garrafa na cabeça.
Eu queria o seu sentimento, não o seu coração. Queria só viver isto dia após dia, nada de tomar pra mim de dizer que você é minha ou que a sua vida é minha. Não concordo que viver um sentimento signifique apropriar-se do que o outro é. Queria me infiltrar em você e deixar que você fluisse em mim, mas, você prefere alguma pessoa idiota suficiente pra não querer um sentimento. Ok! Vamos ver até onde vai a sua encenação. Afinal, você não é de mentira. É egoísta,  covarde, porém, de verdades e muitas verdades.
Não... Não me interessa até onde você vai ou onde vai explodir a próxima fúria que te sucumbir. Estou vomitando o ódio que senti por te perder e por não ter coragem suficiente pra te manipular - ao invés de te dar o poder de escolha. Saiba que cada lágrima que rolar, a partir de hoje , não será de lamentação por você ter ido embora, mas, por eu não ter sido suficiente para alimentar o seu ego, te confortar, assumir e te dar a vida que você tanto quer, mas, fica aí parada se contentando com migalhas do cotidiano.
O bar? O bar já fechou faz tempo, os meus 'amigos' foram embora e eu continuo aqui nesse chão fétido onde os seus sentimentos mediocremente unidos me jogaram. Não. Não quero a sua mão. A sua pena serve para o dia em que enxergar que alguém quis viver de verdades ao teu lado, mas, você preferiu encenar a vida perfeita com um estereótipo pardo de macaco sapiens e vender o direito de ser feliz pelo gole surreal de um convívio vazio e prazeroso.
Viva a sociedade que limita os valores aos corpos, ao encaixe de sexos e não aos sentimentos!
Viva a realidade de fingir.
Atores do cotidiano, parabéns por fingirem até para si.
Ela não era tão aguerrida e corajosa como pensei ter conhecido. Era formidável mesmo assim. Não consigo mudar a minha concepção. Ainda é a mulher perfeita - tirando determinados hábitos pós-refeição - que sonhei pra casar e criar os meus cachorros. Eu? Pra ela isso não importa mais. Certamente, faz tempo que não importa mais nada.
Agora, pretendo acertar o número do táxi e não ligar pra ela me buscar aqui. Ela está na cama comemorando mais um dia ao lado do seu príncipe enquanto estou aqui nesta merda. Culpa dela? Não. Culpa desse coração otário e levemente ébrio mesmo.

1 Comentário:

Geisa disse...

Gostei muito, Dani!

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