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| Boa Viagem - 14.Nov - 5h |
Ainda era noite e tudo o que eu queria era que amanhacesse pra que eu pudesse ouvir a sua voz, a sua risada e dizer com a minha voz ainda rouca o quanto aquilo era simplesmente importante pra mim. Ela sabia me acordar com sutileza e vigor. Não importava se o sonho estava no auge, a voz dela me trazia para uma realidade que eu passei a acreditar como - embora pesada e confusa- sendo colorida a ponto de me dar nas alegrias os melhores sorrisos e na dor os melhores motivos pra erguer a cabeça e seguir a diante.
Mas, embora fosse noite, eu sabia que não haveria aquela voz pra me acordar mais. Sabia que ela tinha partido sem data de retorno e o destino da viagem era frio demais pra caber o meu amor tórrido e que a fazia tremer na base e na alma.
Comecei a pensar que está na hora de migrar para uma outra ilha - assim como fazem os pinguins. Talvez, não fosse ela quem tivesse que partir, afinal, fui eu quem entrei nesse território que nunca foi nem será meu. Certamente, estive errada por pensar no meu sentimento e não reparar que havia todo um teatro acontecendo em paralelo a minha realidade. Não adiantava ser de verdade num palco repleto de ilusões e marcas.
Agora, que a madruga me abate com esse frio no espinhaço, penso em quantas vezes viramos na cama na última noite que partilhamos uma noite inteira de amor livre, de fome incessante e prazeres imensuráveis... Quantas vezes?
Quantas vezes derramei lágrimas por alguém que estava preocupada com a lágrima que chorava um outro alguém?
Quantas vezes sorri pra te ver feliz, mas, queria mesmo o seu colo pra chorar e desabafar uma dor que só iria te machucar mais ainda?
Quantas vezes consegui sentir tão intimamente a tua felicidade que o meu sorriso parecia não caber em meu rosto e o brilho dos meus olhos abria o escuro da noite como que numa aurora sem fim?
Quantas vezes pensei a razão de te amar e não consegui encontrar um motivo pra te odiar e tornar tudo isto mais fácil?
Quantas vezes quis partir? Quantas vezes quis ficar? Quantas vezes tentei evitar?
Quantas vezes a te amar?
São tantas outras perguntas. São tantos sentimentos. Tantas confusões. Tantos medos que nem sei enumerar, citar ou sentir pausadamente.
Não sei o que tomei no último porre, porém, tenho certeza que a minha culpa de te colocar nessa situação me embriagou com um nocaute que não sei onde foram parar o meu cérebro e a minha voz.
Engraçado que na primeira vez que a encontrei também não sei o que houve entre o cérebro e a voz, mas, travei no impacto e destravei pra oferecer uma bebida quente numa madrugada gelada. O que eu não sabia que ela preferia cerveja gelada e pessoa quente...
É... Já não sei o que pensar, falar ou fazer, entretanto, sei que não tenho mais espaço nessa brincadeira de amar. Sei que o teu amor não é meu. Então, o que me resta é tentar consertar esses buracos que decoram o meu coração - antes de lata - e armazenam as lágrimas de olhos que nunca choravam.
Que venha a primavera de novo e que eu consiga fazer a coisa certa dessa vez. Porque no final da primavera passada - 14 de novembro -, conheci a mulher mais especial de todas e poderia sem nenhuma timidez compará-la a rosa do Pequeno Príncipe - já que para os outros ela é só mais uma no meio de tantas, porém, pra mim é única porque me cativou desta forma, porque fez-se a mais rara, mais mais.
Sinto muito ter que partir. Meu sentimento diz pra ficar. Minha alma já sente o frio e o vazio de estar longe. Porém, que seja feito o melhor pra você. Afinal, AMAR é também sacrificar o que há de mais louco e teimoso, fraco e forte em nós: o coração, o amor.
Não sei ainda como tentar, afinal, já tentamos tantas vezes e a vida nos colocou de volta por perto ou esbarrando mesmo, porém... Vejamos o que acontece desta vez.
Quanto a minha voz... Ah! A minha voz já não me faz falta, afinal, ela não poderá mais te dizer o quanto você é linda, me faz bem e como eu VEJO você. Já você, você não vai precisar da minha risada como música nem terá mais o pesadelo da minha dor. Você terá a felicidade de estar com quem VOCÊ QUER - é... Eu entendi.
Mais uma vez te desejo a FELICIDADE mais simples e intensa pra o teu sorriso fazer valer a pena cada lágrima que molha esse papel amarelado de um caderno usado na infância.
Difícil, mas, parto com a única certeza de tudo que vivemos: EU TE AMO!
"E as retas, todas elas se encontram no infinito".
Amanheça.
