Despedida do Anjo AzuL

Galera,
não que tenha perdido a "Fonte Inspiratória", mas, realmente não vejo razão para continuar produzindo como Anjo AzuL quando ele está morto. Hoje, ele faleceu às 21h37. Não existem acusados. Ele realmente resolveu partir. Logo, com muita dor que encerro aqui as atividades. Segue abaixo:


Dan Barros

A ÚLTIMA CARTA DE UM ANJO AZUL.

Uma outra vez ela estava lá, mas, havia um outro sorriso no porta-retrato. Aquela foto em p/b estava mais para restos de cinzas e comia as bordas a traça.



Não tinha muito o que fazer. Sentou-se no canto do quarto, próximo à estante e puxou o último cigarro que guardava na carteira amarelada e amassada. Soprou o filtro – como sempre o fizera – e acendeu. Acendeu também o refletor do cinema que transmitiria o filme daquele derradeiro grão que chorou.


O cigarro tinha uma mancha de batom vermelho scarlat. Tinha cheiro de perfume barato e lembrava aquele último lugar com tapete vermelho nas escadas e luminárias laterais nas paredes – semelhante à queles candelabros medievais –, em um quarto qualquer da Baixada Fluminense.


Na primeira tragada, preocupou-se em sentir o gosto único que o prendera àquele hábito. O paladar de mato queimado, seco e levemente mentolado era sublime. O acabamento rústico que havia dado ao cigarro – o qual lhe sustentava – era tão precário quanto o telão das suas memórias.


Os buracos na tela. As lacunas na mente. O vazio no peito. O próximo trago.


Ela continuava deitada. Sonhava. Sorria.


Ele apressou-se em tocar-lhe o rosto. Sabia que não tinha todo tempo. Aliás, tempo tinha – só não era ali. Não ao lado dela.


Ela havia optado pelo medo. Ele pela certeza. Ela dormiu sorrindo. Ele partiu chorando.


Agora, o que restava era sentir o prazer do seu pecado. Ele não queria estar livre. Queria a alma presa, o coração ritmado ao lado dela.


Então, pôs o cigarro aceso ao lado da cabeceira dela – entre a lamparina e o rosto vivido, surrado e marcado dela –, entre o fogo e a calmaria. A luz e a escuridão dos fantasiosos sonhos – os quais jamais imaginaram a possibilidade de transformar a sua interrogação num exclamativo sorriso.


Sentado ao lado dela naquele quarto que parecia um altar particular, ele sorriu em meio a mares de lágrimas e soluços de dor. Ela disse que não o queria ver sofrer. Ele sabia que ia sofrer de qualquer forma, contudo, queria sofrer em meio a momentos felizes. Ela se conformou com o mediano.


De certo, ele descobriu na infância que crescer dói. Ela sabia das dores enquanto crescera, enquanto sonhava pesadelos e não conseguia dizer “sim” porque o “não” era mais fácil.


Ele gostava de correr os riscos de ser feliz constantemente e não por um cigarro. Por isso, tocou-lhe os lábios, segurou o sorriso como se preparado para o despertar dela. Ela não acordou, mas, beijou-lhe os dedos como se o sentisse. Ele tremeu tentando trancar-se, entretanto, o grito foi inevitável. Não. Não foi ela. Ele gritou a sua dor, gritou a sua saudade que literalmente seria para eternidade. Ela estava emaranhada nos labirintos de suas conclusões que a faziam sorrir ao mundo enquanto o cigarro não acabava.


Ele queria se matar. Tolice. Já estava morto. Ela já o havia matado dentro e fora do mundo dela. Ele era algo menos importante que a lagartixa para o ecossistema. Ele era exatamente aquilo: um morto.


As fotografias, os projetos e os filmes fugiram da memória dele. O cigarro ainda estava aceso e lhe restava o último trago. A consciência sobre a derradeira coisa a fazer o confundiram. Por fim, resolveu escrever uma carta.


Pegou o porta-retrato, o urso de pelúcia, as pétalas de rosa e o livro que ela o emprestou. Pôs tudo sobre a bancada do banheiro. Apanhou a caneca na cozinha, encheu de café com nescau. Ao lado, colocou o seu fatídico representante – o cigarro inacabado, brevemente aceso. Beijou-lhe a testa. Alisou a face com leveza e lentidão como quem registra cada traço, falha e perfeição por dpi. Finalizou a carta antes que o café esfriasse e o telefone tocasse para contar a novidade.


Ele sabia a importância daquele “Eu Te Amo” há tanto tempo trancado e agora a 7 palmos sufocado. Seu espírito estava livre e o seu corpo dilacerado. Aquele coração partido estava parado, dilacerado, explodido. As suas mãos tremiam como as pregas vocais tentavam gritar pela última vez aquele sentimento que o preenchera na breve vida. Então, aumentou as letras para concluir :


“com eterno amor do seu verdadeiro Anjo AzuL (agora em plenitude): Eu Te Amo!”


As lágrimas brilhavam em seu corpo que se diluia na luz que o consumiu. Era o fim de uma dor. Era o início de uma nova batalha.


E foi-se sussurrando um “adeus” para que ela despertasse e ele pudesse ver, pela última vez, aquele sorriso.

Assina: Anjo AzuL

2 Comentários:

Anônimo disse...

pô, anjinho nem acredito. ressussita, vai!
adoro seus textos. e sei que não é pra dizer isso. mais é fogo.
acorda, ave fênix. ressurja, vá!

abraço, lindo anjo.

Ví-Ví disse...

dann!!!

texto lindo. mais pq terminar? não é pq alguém n te dá valor e deixa vc ir embora q vc vai acabar com um negocinho tão fofinho assim.

unnnh ><

escreva mais. deixa de coisa.
unxi.

xerinho na orelhinha mais linda.

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