O balanço do mar que cessou

Depois de alguns dias, voltei àquela cidade onde avistei Jung e Lee... Percebi que havia algo estranho. Na verdade, nem lembrava mais quem era Jung ou Lee, recordei apenas do sorriso que refletia algo que esborrava positivamente sobre o deleite enfervescente da cama delas.
Jung não tinha mais aquele brilho juvenil nos olhos e Lee tinha uma ruga na testa que indicava preocupação, angústia - talvez seja mais coerente e verdadeiro.
Quando esbarrei naquela história, remotei a um café que as vi entrar, a um veleiro e ao mar - infnito mar. Vi que as duas tinham pressa, mas, tinham algo que soava cumplicidade leal e sinceramente intensa. Penso que me equivoquei.
Em uma das minhas tardes peregrinas, vi a Lee passeando no comércio com olhar de quem procurava alguém. Não era a Jung. A Jung estava resolvendo o problema de uma amiga na casa da última, não poderia estar lá. A curiosidade me consumiu e fui atrás.
Descobri.
A Lee era mais traíra do que imaginei. Ela era dessas vulgares que trocam bilhetes em restaurantes e telefones em porta de motel. Ela não queria algo limpo. Esperava o motel mais sujo e xinfrim que encontrasse. Para ela não importava o sentimento da hora, queria viver o seu momento e pronto.
Vi quando ela passou e olhou aquela guria loira de olhos claros e sorriso de piranha - mostrando todos os dentes. Senti que ali ia pintar uma sujeira e me adiantei para a porta do primeiro motel barato que conhecia e ficava ali perto. Adivinhe?! BIN-GO!
Assisti a tudo, principalmente, quando a Jung chegou ao comércio para comprar algumas flores e uma garrafa de vinho português de alguma safra especial para comemorar mais um mês daquele convívio mágico - para a sonhadora.
Quando cruzei as cenas, já desenhei na minha caderneta o final infeliz daquele dia e daquele sonho.
Confesso: não imaginei tanta dor para aquele casal... Não à primeira vista.
A Jung comprou os presentes e ia saindo quando viu uma mulher linda beijando uma galega bem vestida e com cara de "caridosa" - se me entende. O problema é que a única mulher capaz de atrair aqueles olhos apaixonados e fiéis era a Lee.
É, Camará, a traição sempre tem fim. As máscaras caem um dia. As mentiras se transformam em verdades desfiguradas e é bom que a sua maquiagem esteja impecável, pois, quando a sua peça terminar e você estiver sozinha no palco da vida real, você precisará ter um rosto bonito pra admirar no espelho que te servirá de companhia.
Jung não quis barulho. Olhou, trincou a lágrima no canto de algum lugar que não posso minunciar e ergueu a cabeça. Calou o grito de sei lá o que que ela sentia, mirou a Lee e com tudo aquilo que a revestia a alma e o corpo disse: "A partir de hoje, você é uma mulher. Não me peça o que carinho que uma vadia não merece. Não me implore o sentimento que você nunca conheceu e não siga o caminho de uma mulher porque você cairá ao TENTAR dar o primeiro passo. Não me dirija palavras doces porque sei que você gosta dos esculachos e que são os termos que te fazem sentir melhor. Não se compare a minha cachorra porque você não é digna do que há de pior no que ela excreta e não me olhe com os olhos de quem é alguma coisa importante, para mim você já não passa de um Nada".
Confesso: CHOREI (...) e pensei no coquetel de dores e todas as outras péssimas sensações que Jung sentia ali. Coloquei-me no lugar dela e imaginei a decepção de saber que pra a pessoa que ela mais se dedicou durante esse tempo que viveram, ela era apenas um porto seguro, um rochedo, abrigo... A Jung havia sido usada para alimentar o ego de uma Lee que queria o mundo aos seus pés e dentro dela, em cima, ao lado, atrás, embaixo... A Lee não era uma criança alegre e pura como a Jung desenhou e a Jung não era tão anjo que não pudesse sentir a ira dos humanos um dia traídos.
Vi a Lee chorar. Não sei o que significava aquela lágrima ao certo porque não parecia fluir de um sentimento, porém, devo confessar que não retratava falsidade tão evidente. Assim como a Jung, não pude definir ao certo o que era a Lee, contudo, senti que ali acabava a história de um algo que não teve rótulo, teve um falso conteúdo e um final dorido para quem sabe da dor que é sentir.



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