Outra noite na praia. Outra noite olhando o passeio da lua sobre as nuvens. Outra vez, sem sono.
Alguém passou perto de mim. Senti o cheiro bom de criança e levantei para olhar. De repente, surge uma balinha na mão pequenina e clara.
Sorri...
A criança me sorria um olhar de denúncia - quero ser feliz, mas, tenho medo, tia. Vidrei nos olhos dela e não consegui esconder o sorriso que me fazia crer que aquele era o verdadeiro brilho de uma estrela brilhante, mas, perdida.
Recolhi a balinha e guardei no bolso da camisa. O sorriso não consegui recolher.
Segurei as suas duas mãos. Sentei-a na minha jaqueta e perguntei o que ela fazia por ali aquela hora. Ela respondeu que vagava por aí a espera de alguém que pudesse ouvir o que ela não sabia dizer e falar aquilo que o coração tanto precisava, mas, nunca encontrara alguém com tempo ou disposição.
Sempre quando se achegava a alguém, a expulsavam, repreendiam, mas, não acolhiam aqueles olhos amedrontados e sedentos.
Fiz o que me cabia: peguei a balinha do bolso e dividi em duas partes - uma para aquele momento e outro para uma demonstração futura -, colokquei a primeira na boca e estendi a outra para ela.
Ela se negou. Disse que guardava a balinha pra quem ela fosse visitar naquela noite e que não podia pegar. Era um presente e não aceitaria devolução.
Então, expliquei: "Linda, não estou devolvendo, apenas compartilhando. Não espere que alguém esteja feliz o suficiente para que você esteja. Você primeiro deve ser feliz para que as pessoas sintam-se felizes a sua chegada. Você é uma neném linda. Porém, onde foi parar o brilho dos seus olhos negros? Onde foi parar aquela risada dobrada que você dava há alguns poucos anos atrás? Cadê a bravura da inocência que reveste os atos da criança que só quer ser feliz e mais nada? Dividir a felicidade das pessoas que se achegam a você é também dar motivo para que elas permaneçam buscando a felicidade, mas, é também um modo de se fazer feliz. Não espere o tudo e não guarde o tudo para UMA ocasião. Você pode ser feliz várias vezes, portanto, divida os seus dias em bons ou desgastantes, só não os defina como ruins para que os demais não sejam apenas razoáveis. Os dias ruins não existem para aqueles que compartilham felicidades."
Ela estava meio zonza com tanta coisa, mas, me sorriu meio sem entender. O sorriso me fez levantar e jogá-la pra cima. Catei-a nos braços e corri pro mar.
Mergulhados, ensopados e sorridentes cantamos, pulamos, brincamos e ao final da noite vi que não são as estrelas que vão cair sobre mim, mas, eu quem devo compartilhar do brilho que elas deixam nos meus olhos adentrar.

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