Do cheiro do cigarro.



Foto por: Dan Barros

Ontem, pela primeira vez depois daquela madrugada de Janeiro, voltei àquele Fumódromo. Respirei aquele ar carregado. Deixei as cinzas pesarem sobre a minha roupa. Mais: permiti que toda aquela essência desse vício autodestrutivo penetrasse nos fios da minha camisa, calça, cabelo. O cheiro adentrou novamente a minha pele e dilatou os olhos da minha mente.
De repente, eu estava ali acompanhada por uma candidata a amante que seria amada por mim. De repente, eu estava com uma outra pessoa que nem sei definir - mas, não se encaixa.
Tentei fugir do Janeiro. Tentei me ver em Junho, na antevéspera do dia dos namoradinhos monótonos e corriqueiros - aqueles que esperam um ano inteiro pra dar presente, dizer coisas bonitinhas, fazer joguinhos para descobrir o presentinho, levar para jantar, dançar, dar flores e todas essas coisas que deveriam ser feitas TODOS os dias ou sem data pré-marcada. Não enxerguei a madrugada que deveria ter sido quente. Congelei.
A mente voltou para aquele Verão tórrido, sensual, ingênuo [por que não dizer?], devastador. Lembrei de uma música dizendo "1[one], 2[two], 3[three]...." com uma cantora PoP vinda da mesa do DJ. Lembrei de uma garoa delicada no rosto e o cheiro do cigarro que me acompanhava, embora disfarçado por uma goma de mascar.
O laranja da laje não me fazia querer ficar mais. Ele expulsava meus olhos do Verão para lembrar que já é um quase Inverno Glacial - daquele da Corsário de João Bosco.
Não consegui.
Desci depois de mais de uma hora presa naquela Laje Laranja do Fumódromo. A música?
1[one], 2[two], 3[three]!!!

Os meus fantasmas não me deram sôssego.

Tentei fugir deles. Desci mais um andar.

Lá embaixo, vi o EDU. "EDU.......... Uma caipirosca, por favor!" [risos]
Lembrei de um micro-short segurando uma bunda firme, uma tatuagem embelezando panturrilhas fortes, as coxas que imavam os meus olhos e os desejos mais cafajestes. Subindo um pouco, lembrei daquela blusa de 10 mil cores indefiníveis e com um decote que paralisaram meus olhos [só eles, porque o resto do corpo estava impovoroso].

Fato é que "me agarra[ra]m pelas pernas certas mulheres". Ah! E também pelo guarda-chuva alheio. Lembro de um guarda-chuva estendido [ que fingi não ver] e um braço que me chamou para aquele Amor de Verão.

Lembranças que este tal cheiro de cigarro me trouxe.
Não sei se queria lembrar. Nem sei se queria viver. Sei que não consegui viver o ontem nem o hoje da madrugada que passou. Sei que estou tentando tirar este vício frenético do coração.
Não, eu não fumo. Mas, foi por causa desse fumo que sempre penso antes de jogar um lixo no chão - mesmo quando tá grudando o raio do papel na minha mão ou o ônibus tá cheio e tenho que segurar a garrafinha d'água, o case do notebook, a carteira e o pensamento longe do tal CHEIRO DE CIGARRO.
É... Eu não fumo. Mas, o teu cheiro ficou grudado na "minha pele feito tatuagem". Quando vão inventar transplante de pele? Não sei se quero estar nesta fila. Sei que quero largar este vício que me mantém no ontem que não me faz feliz.

Ah! E pra completar ganhei um presente. Um perfume que se chama: CIGAR. Ele me lembra boêmia, noites de filminhos, sorrisos e pipoca. Pizza, sol nascendo, abraço apertado, prazer. Danças sensuais, rosas, bilhete e o final da "História de LiLLy Braun".

"Nunca mais romance, nunca mais cinema... Nunca mais ROSA e POEMA".

O Chico poderia ter economizado nessa parte da profecia [música].

E não é que lá vou eu sair mais uma vez com o Cheiro do CIGAR. Não, não há porta para passar. Tô pulando janelas, cercas, macumbas, ondinhas. Tô pulando. Quem dera fosse FELICIDADE.

Lá vou eu...

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