Do sabor ao caroço.



Nas frutas o símbolo do que muitos escondem: o selvagem, o doce, o misterioso jeito arisco de ser único - embora tantas pareçam iguais.


O que diferencia uma da outra?


É o toque de quem a escolhe. A leveza de quem a colhe. A habilidade degustativa de quem experimenta.


Não basta ser bonita, ter cor viva ou ser suculenta. Tem que ter tudo isto. Tem que ser perfeita.


E sabe no que acaba toda essa perfeição? No caroço. Sabe aonde pára o caroço? No chão.


Certo?


Na minha concepção, o sabor vai além do momento. Vai além da sensação de pureza. O sabor vai nas entranhas daquilo que não conhecemos e está longe do limite do caroço. Da mesma forma, o caroço está distante do fim. A terra não é o último ponto. Afinal, é de lá que brotam as flores, após tecerem espinhos - que secos voltam à terra e se fazem instrumentos de novos jardins. É da mesma terra que surgem os grandes arvoredos que sombreiam os nossos dias quentes e insuportavelmente suados de trabalhos árduos em prol de alguma coisa que não é nossa.
Alguém pode se perguntar sobre a coerência entre o início e o fim do texto. Alguém pode responder qual a coerência entre o início e o fim da sua história?
Não precisa ter coerência, basta ter conteúdo. O conteúdo não tem que ser denso, prefiro que seja confuso. O que esclarece aliena, o que duvida cresce.
Questione. Confunda-se. Deixe-se viver. Afinal, como cita Clarice Lispector:
"Não procure entender. Viver ultrapassa todo entendimento."
>> foto by Me

1 Comentário:

Sinuca-breja-bossa disse...

O ciclo da vida nos leva sempre ao ponto de partida.
Onde um enxerga o fim, outro enxerga o inicio de algo maior.
Prefiro a arte da duvida que a certeza inquestionável dos fins.
A duvida sobre a inabalável certeza abre a mente a receber o que a vida oferece.
Se a própria vida não é coerente, porque um texto deveria ser!

Postar um comentário